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Para ampliar vacinas, Butantan prevê derrubar 6.600 árvores em São Paulo

Vista aérea do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo - Reprodução/Google Earth
Vista aérea do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo Imagem: Reprodução/Google Earth
do UOL

Do UOL, em São Paulo

15/06/2025 05h30

O projeto de expansão do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo, prevê a derrubada de 6.629 árvores para ampliar a produção de vacinas, soros e medicamentos. Moradores da região e ambientalistas, no entanto, denunciam que a vegetação é patrimônio histórico do estado e não pode ser suprimida.

O que aconteceu

Butantan planeja aumentar o complexo industrial nos próximos 20 anos. Expansão consta no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do instituto, aprovado em 2021. Em um ofício enviado ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo), a Fundação Butantan detalha que vai compensar o desmatamento com o plantio de 9.260 mudas no próprio terreno.

Redução da área verde é questionada por entidades do meio ambiente e por moradores do bairro do Butantã. Eles argumentam que as árvores fazem parte de uma área remanescente de Mata Atlântica e que o plantio de novas mudas não é suficiente para compensar o impacto ecológico da derrubada de 6.600 árvores.

Novas construções incluem um restaurante e a instalação de uma central de medicamentos e insumos. O UOL teve o ao plano da Fundação Butantan que cita as quatro áreas de onde as árvores devem ser removidas.

Obras podem reduzir em cerca de 18% a área verde dentro do terreno do instituto. Em 2021, o Butantan era constituído por aproximadamente 62% de vegetação de Mata Atlântica, mas caso o projeto de expansão industrial avance, a projeção do próprio instituto é de que área de vegetação restante seja de 43,59% do complexo.

Instituto Butantan - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Derrubada das árvores vai afetar a fauna local e empobrecer a vegetação urbana da cidade, diz pesquisador. Fábio Sanchez, integrante da Rede Nosso Parque, coletivo que atua em defesa do patrimônio natural do estado, explica que a mata do Butantan faz parte de um corredor ecológico que vai até a Reserva do Morro Grande, em Cotia. "É um complexo de conexões que para a fauna é importantíssimo. Começar a destruir esse corredor é como empobrecer a fauna da cidade de São Paulo, afetando aves, insetos e outros animais que circulam por essa área", explicou.

Não tem como chegar para os animais e avisar que o endereço vai mudar, o animal tem critério próprio para escolher o seu habitat. É um dano muito grande para a biologia em favor de uma expansão industrial que pode ser construída em qualquer lugar, inclusive nas beiras do Rodoanel, onde há espaço para galpões industriais
Fábio Sanchez, da Rede Nosso Parque

Um refúgio verde no meio da cidade de São Paulo. Segundo texto divulgado pela gestão do Butantan, a área é o lar de animais como lagartos, serpentes, escorpiões, vários tipos de aranhas, saguis e gambás. Também há abundância de aves, inclusive as migratórias, "que dão vida ao ambiente". O parque também preserva um dos poucos remanescentes de cerrado do município de São Paulo.

Uma cidade que começou a frequentar o ranking das mais poluídas do mundo não pode se dar ao luxo de perder uma quantidade tão grande de árvores em um lugar tão urbanizado como esse. As árvores que estão lá contam a história do local, não estão ali à toa. Produzir artificialmente uma área para reproduzir aquela é falso, as mudas não prestam o mesmo serviço ambiental de uma árvore adulta, em termos de qualidade do ar, principalmente.
Fábio Sanchez

Moradores denunciaram projeto ao Ministério Público

Vizinhos protestaram contra derrubada de mais de 6.000 árvores no Instituto Butantan  - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Vizinhos protestaram contra derrubada de mais de 6.000 árvores no Instituto Butantan
Imagem: Reprodução/Instagram

A expansão do Butantan foi denunciada em 2022 ao Ministério Público de São Paulo e um inquérito civil está em andamento na promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Capital. Um parecer técnico do MP, em 2022, recomendou a paralisação imediata "de toda a degradação e desmatamento de qualquer área nas dependências do Instituto Butantan". O órgão afirmou que aguarda respostas do governo estadual.

Além dos danos ambientais, os vizinhos do instituto questionam os impactos da expansão industrial em uma área urbana. "Importante frisar que não se trata de uma atividade industrial com baixo risco ou impacto ao entorno residencial. Por sua natureza, a atividade gerida pela Fundação Butantan implica em risco biológico à comunidade e deveria ser expandida para área de menor exposição humana", diz texto do abaixo-assinado compartilhado pelo grupo.

Moradores reclamam de não terem participado de audiências públicas sobre o tema. Juntos, criaram o grupo SOS Butantan para tentar reverter o projeto de desmatamento no instituto. Ao UOL, eles contaram que não contrários à ampliação da produção de vacinas pelo Butantan, mas citam que a ampliação do complexo industrial não é compatível com o local escolhido. "Riscos de contaminação, poluição, além dos irreparáveis danos ambientais. Zonas Industriais existem para isso", diz a economista Sonia Imperio, 64, que mora ao lado do instituto.

A ampliação do complexo industrial traria ainda grande movimentação de veículos pesados na área urbana da cidade para a logística de suprimento dos materiais, entrega de seus produtos acabados e descarte de resíduos. A poluição sonora já é uma realidade para quem mora na parte de cima da rua Barroso Neto, é barulho 24 horas por dia, que tem tirado o sossego dos moradores dos prédios que ficam nas imediações do novo biotério, construído em 2021. Esse barulho evidentemente também afugenta pássaros e outros animais.
Sonia Imperio, moradora do Butantã

Butantan justifica que irá cortar principalmente espécies invasoras

Instituto promete compensação com plantio de 9.260 mudas no próprio terreno - Divulgação/Instituto Butantan - Divulgação/Instituto Butantan
Instituto promete compensação com plantio de 9.260 mudas no próprio terreno
Imagem: Divulgação/Instituto Butantan

Butantan declarou que impactos ocorrerão no decorrer de 20 anos, sempre com compensações antecipadas, e que qualquer manejo arbóreo ocorre apenas após emissão de autorizações legais dos órgãos competentes. Segundo o instituto, o resultado será positivo para o ecossistema, já que serão plantadas mais de 9.000 árvores de espécies nativas dentro do próprio terreno, "superando, portanto, em quantidade e também em qualidade ambiental as árvores que eventualmente serão suprimidas".

Aproximadamente 60% das árvores que eventualmente serão suprimidas são de espécies invasoras, justificou a fundação. Em nota, o instituto argumentou que tais espécies levam à destruição da mata atlântica nativa, degradando completamente a vegetação original, com perda de diversidade e afastando a fauna. "Desta forma, essa compensação visa enriquecer a mata atlântica, pois todas as espécies de árvores invasoras retiradas serão substituídas por espécies nativas".

Ao UOL, o governo de São Paulo afirmou que, conforme licença prévia emitida pela Cetesb, em junho de 2024, ficam estabelecidas que a instalação das novas unidades produtivas previstas e as autorizações de supressão de vegetação necessárias para implementação do plano serão objetos de análise individualizada pela companhia, seguindo os trâmites processuais.

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