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Conflito Israel e Irã deve escalar, mas 3ª Guerra Mundial é 'improvável'

Irã lançou mísseis balísticos contra Tel Aviv nesta sexta (13) - Jamal Awad/Reuters
Irã lançou mísseis balísticos contra Tel Aviv nesta sexta (13) Imagem: Jamal Awad/Reuters
do UOL

Do UOL, em São Paulo

14/06/2025 05h30

Apesar da escalada crescente do conflito entre Israel e Irã, cientistas políticos analisam que a possibilidade dos ataques resultarem em uma 3º Guerra Mundial ainda é remota.

O que aconteceu

Nível de tensão global elevou após ataques entre países, mas 3ª Guerra é 'improvável', avaliam analistas. O UOL ouviu quatro professores de Relações Internacionais e especialistas em conflitos globais de diferentes universidades e instituições acadêmicas pelo país, que classificaram como "precipitada" a hipótese dos ataques entre Israel e Irã escalarem para uma guerra que envolva outras potências mundiais. Leia trechos das análises abaixo.

Acredito que falar em 3ª Guerra agora é muito precipitado. Devemos ter uma escalada maior do conflito que pode, sim, levar a uma guerra entre Israel e Irã. Mas não acredito que uma guerra mundial, agora, é algo que os Estados Unidos ou outras potências, como a Rússia, querem agora, apesar de toda retórica bélica dos países. E sabemos que, para haver uma guerra mundial, é preciso envolver as grandes potências mundiais, não apenas as locais. Karina Stange Calandrin, pesquisadora e professora de relações internacionais do Ibmec

Os riscos globais aumentaram, mas as chances de uma guerra mundial ainda são bastante remotas. O que vemos é uma escalada regional que pode engatilhar conflitos em áreas críticas, como Golfo e Oriente Médio, e até uma interferência naval ou atentados terroristas internacionais. Já se fala em risco de ampliações regionais, porém, nenhuma das grandes potências (China, Rússia, OTAN) declarou intenções de confronto direto. Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ

Ainda não dá para saber o quanto essa escalada vai levar a uma generalização do conflito. A curto prazo, ela gera uma grande instabilidade regional. A médio prazo, é possível que haja o envolvimento de outros países, mas ainda é preciso entender o quanto a China, Rússia, Turquia e países europeus vão se envolver no conflito e em qual grau isso vai acontecer para se ter uma melhor percepção se essa escalada vai gerar uma ampliação global do conflito. Denilde Holzhacker, Cientista Política e professora de relações internacionais da ESPM

Acho que, dificilmente, teremos uma grande guerra convencional entre esses dois países, até porque a distância entre os dois é de mais de mil quilômetros. (...) Mas que haverá muitas tensões, muitos conflitos localizados, regionais e muitas transformações da ordem internacional, como nós conhecemos há décadas, isso sim, podemos esperar. E essa transformação pode envolver conflitos militares internacionais, com certeza. Kai Enno Lehmann, professor do IRI (Instituto de Relações Internacionais, da USP

Pressão política sob o Irã para que hajam respostas à altura aos ataques israelenses é 'enorme', avalia professor. Segundo Kai Enno Lehmann, docente do IRI-USP, as forças armadas iranianas estão entre as mais poderosas do Oriente Médio, atrás apenas das de Israel, e Irã "está sob enorme pressão política e doméstica de retaliar". Ele pondera, porém, que ainda não se sabe até que ponto o governo iraniano tem capacidade de "responder com a mesma força" e ameaçar a segurança interna israelense.

Após ataque de Israel ontem, resposta "esmagadora" do Irã começou, diz televisão estatal iraniana. Segundo a IRNA, por volta das 15h30 de hoje, a "resposta decisiva ao ataque brutal do regime sionista começou com o disparo de centenas de mísseis balísticos contra os territórios ocupados". Dezenas ficaram feridos, segundo informou à imprensa local um porta-voz do serviço de resgate israelense.

Retaliação ocorreu após Israel matar líderes militares de alto escalão no Irã. O chefe da Guarda Revolucionária do Irã, general Hossein Salami, e o chefe das Forças Armadas, general Mohammad Bagheri foram mortos em bombardeios israelenses em território iraniano na noite de ontem (horário de Brasília; madrugada de sexta, no horário local). As FDI (Forças de Defesa de Israel) afirmaram que a operação, nomeada de "Leão em Ascensão", foi contra "dezena de alvos militares" e instalações nucleares relacionados ao programa nuclear do Irã.

Não se pode subestimar a força militar do Irã, mas Israel tem vantagens, dizem analistas. Segundo Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ, evidências mostram que o Irã "já sofreu com limitações na eficácia de retaliações anteriores", como em abril e outubro de 2024, quando usou drones e mísseis que foram interceptados pela Defesa israelense.

No curto prazo, o Irã enfrenta fortes restrições tecnológicas e geográficas, além da capacidade de Israel e seus aliados, incluindo os EUA, de interromper ataques. No médio ou longo prazo, Teerã ainda possui arsenal de mísseis balísticos e capacidade de agir via proxies. Seu potencial de escalada existe, mas é improvável que consiga ameaçar seriamente a segurança interna de Israel por agora. Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ

Cientista política corrobora avaliação de que, apesar de ainda demonstrar força militar, Irã está enfraquecido diante de Israel. Para Karina Stange Calandrin, professora de relações internacionais do Ibmec, o Irã segue sendo uma grande potência militar no Oriente Médio, mas Israel, com o apoio dos Estados Unidos, tem vantagens "que vão além do poderio militar".

Não se pode subestimar a força militar do Irã, que é uma potência importante no Oriente Médio, mas Israel conta com o apoio dos Estados Unidos, que é hoje a maior potência militar mundial. Além disso, o Irã tem muitos inimigos no Oriente Médio. Além de Israel, tem a Arábia Saudita, tem a Jordânia, tem outros grupos que não querem que o Irã conquiste o seu objetivo, que é se tornar uma grande liderança do Oriente Médio. Karina Stange Calandrin, professora de relações internacionais do Ibmec

As forças militares do Irã são as segundas mais poderosas da região, depois das de Israel. O exército iraniano ainda tem mais homens na ativa, por exemplo, mas em termos de investimentos tecnológicos e equipamentos, o que Israel possui é muito mais moderno. Então, existe uma pressão para responder, mas o Irã está bastante enfraquecido e perdeu homens-chaves nas forças armadas do país nas últimas 24 horas. Kai Enno Lehmann, professor do IRI (Instituto de Relações Internacionais, da USP

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