Após ataque israelense, Irã lança mísseis e drones contra Jerusalém

Mísseis foram vistos no céu de Jerusalém hoje. O contra-ataque iraniano aconteceu após Israel atingir um campo de exploração de gás natural no Golfo da Pérsia, entre o Irã e a Península Arábica.
O que aconteceu
Israel e Irã começaram uma nova rodada de bombardeios. O novo ataque iraniano atingiu edifícios residenciais na planície costeira e no norte de Israel, conforme informações do serviço de resgate israelense, obtidas pela AFP.
Bombeiros trabalham no resgate da população de Jerusalém. O serviço também tenta apagar um incêndio que se alastrou em uma área desabitada.
Mísseis furaram o domo de ferro, um dos principais sistemas de defesa de Israel. Segundo a professora de Relações Internacionais da FESPSP (Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Ana Carolina Marson, Netanyahu tenta contornar a situação e as pessoas já foram liberadas para voltar a circular em Jerusalém. "O ataque é um revide do Irã, outros devem ocorrer", disse a especialista, ao UOL. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está se reunindo com seu gabinete de segurança após os ataques.
No Irã, instalações de combustíveis foram atingidas. Segundo a CNN, o maior campo de gás natural do mundo, localizado em South Pars e o depósito de petróleo de Shahran, foram bombardeados por Israel após a troca de mísseis de ontem, como havia prometido Netanyahu. "O Irã afirmou que a situação está sob controle", explicou Marson ao UOL. "É interessante acompanhar isso, principalmente porque o Irã é um grande exportador de petróleo e membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)".
Israel está bombardeando a capital do Irã, Teerã. Ao mesmo tempo que tenta interceptar os mísseis lançados pelo Irã, o país liderado por Benjamin Netanyahu continua tentando bombardear alvos militares em Teerã. Um comunicado militar foi emitido informando que os lançamentos de mísseis continuarão.
São três mortes em Israel e 78 no Irã até o momento. Informações divulgadas pela CNN contam 14 feridos em Israel e 320 no Irã, a maioria são civis, dos dois lados.
Por que agora?
Israel justificou o ataque ao suposto programa nuclear iraniano. Embora Teerã afirme que enriquece urânio apenas para fins energéticos, Israel, Estados Unidos e a ONU (Organização das Nações Unidas) dizem que o Irã está cada vez mais perto de construir uma bomba atômica. Para interromper o suposto programa nuclear, Israel promoveu o que chamou de "ataque preventivo".
Segundo Israel, o Irã se aproxima do "ponto de não retorno" em seu programa nuclear. O ataque israelense ocorreu assim que a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) acusou o Irã de descumprir com seu compromisso de não enriquecer urânio para fins militares. Ao contrário de Israel —que nega possuir um arsenal nuclear de 90 ogivas —, o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Nove países teriam a bomba: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte, segundo a Arms Control Association, que monitora os arsenais nucleares desde 1971.
Irã é o único Estado não-nuclear que enriquece urânio a 60%. Em tese, esse percentual é suficiente para fabricar uma arma nuclear. As mais potentes, porém, tem enriquecimento de 90% do Urânio, missão relativamente fácil para quem já atingiu 60%, diz a agência.
Para analistas, Netanyahu tenta se agarrar ao poder. Com a impopularidade internacional da atuação militar israelense na Faixa de Gaza, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teria aberto uma nova frente militar para manter o país em situação de emergência e evitar sua deposição diante de protestos internacionais e domésticos.
Quem está envolvido na guerra?
Israel realizou o ataque sozinho, mas tem nos EUA um aliado militar. Israel depende diplomática e militarmente dos Estados Unidos, mas realizou os ataques sozinho, afirmou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, segundo quem autoridades israelenses consideravam a ação "necessária para sua autodefesa".
Para o Irã, EUA e Israel mentem. O governo de Teerã afirmou que Washington seria "responsável pelas consequências" dos ataques israelenses, afirmando que eles "não poderiam ter sido realizados sem a coordenação e a permissão dos Estados Unidos".
Trump disse que pode auxiliar Israel. Ele itiu que "sabia de tudo" sobre o ataque e mostrou disposição para ajudar a destruir o programa nuclear de Teerã. O republicano chamou de "excelente" o desempenho dos militares israelenses.
A França disse que pode ajudar Israel a se defender. O presidente, Emmanuel Macron, afirmou que o país não tem intenção de participar da guerra, mas ajudaria na defesa israelense, se precisasse.
Já o Reino Unido defendeu a ofensiva israelense. O primeiro-ministro, Keir Starmer, conversou por telefone com Netanyahu para enfatizar que Israel tem o direito à autodefesa, mas que o conflito precisa de uma solução diplomática.
Em resposta, Teerã ameaçou EUA, França e Reino Unido. Qualquer país que tente interferir no conflito "estará sujeito a ter todas as bases regionais do governo cúmplice atacadas pelas forças iranianas, incluindo bases militares nos países do Golfo Pérsico e navios e embarcações navais no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho", disse o Irã em comunicado noticiado pela agência iraniana Mehr.
China e Rússia apoiam Irã
A China afirmou que "se opõe a qualquer tipo de violação da soberania" do Irã. O gigante oriental se ofereceu para "desempenhar um papel construtivo" para acalmar a situação no Oriente Médio.
A Rússia se ofereceu para mediar o conflito. O presidente Vladimir Putin conversou com o presidente do Irã, Masud Pezeshkian, e com Netanyahu depois dos bombardeios. Em comunicado, o Kremlin informou que o presidente russo "condena as ações de Israel, que violam a Carta das Nações Unidas e o direito internacional".
Mas é "pouco provável que a Rússia mande soldados ou armamentos para o Irã". A avaliação é da coordenadora do curso de Relações Internacionais do Mackenzie Rio, Fernanda Brandão. Ela lembra que o Kremlin "tem a questão ucraniana para lidar".
Comunidade islâmica condenou Israel. A Arábia Saudita, que havia se aproximado de Israel, condenou as "agressões flagrantes". Omã, mediador nas negociações entre Teerã e Washington, criticou os ataques como uma "escalada perigosa" que ameaça a estabilidade regional.
Grupos paramilitares islâmicos são aliados do Irã. "Os grupos que poderiam apoiar o Irã são o Hamas, o Hezbollah e os Houtis", diz Brandão. Mas ela acredita que "eles se encontram em momento particularmente frágil em decorrência de recentes ataques feitos pelo próprio Exército israelense".
Para o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, acalmar as tensões na região é "crucial".